quarta-feira, 22 de novembro de 2006

a morte -como falar dela a uma criança



A morte - como falar dela a uma criança?

A palavra morte parece o símbolo dum fantasma aterrorizante, que provoca um dos mais apavorantes medos e agrava assustadoramente, estados neuróticos já atormentados por situações fóbicas. Não seria tão angustiante encarar a morte, se se promovesse duma forma persistente, a cultura do invisível mas existencial, concentrada na multifacetada actividade psíquica. Este processo educacional e formativo deve iniciar-se na 1ª infância, porque o que se diz, ou se pretende ensinar a uma criança de 3 anos, não é afirmado da mesma maneira a uma criança de 7 ou 8 anos.
Como são inúmeras as facetas formativas educacionais num leque quase interminável, hoje vamo-nos debruçar como falar a uma criança de 1ª infância sobre a Morte. A meta é fazê-la entender que é tão natural nascer como morrer. É a primeira infância até aos 4 ou 5 anos a fase mais difícil de trabalhar com a criança, porque as sensações e as percepções vão dando lugar a uma compreensão mais racional da realidade à medida que se cresce na idade cronológica. Os psicólogos tal como Rhoda Tagliacozzo, afirmam que a partir dos 3 anos ou talvez mais cedo, as crianças podem, em certa medida compreender a Morte. Segundo a teoria de desenvolvimento de Jean Piaget: "assim como as suas faculdades intelectuais se desenvolvem por fases, assim a sua capacidade de lidar com a morte vai evoluindo".
Aconselha-se que os familiares, especialmente os pais falem da morte às crianças antes delas terem que se confrontar com essa realidade. É necessário aguardar um momento oportuno, que pode surgir com a morte dum animal, ou mesmo dum parente afastado. A morte dum animal que viva junto da criança é já um confronto com a realidade vivida em contacto próximo, mas normalmente não tão violento como se fosse uma pessoa com quem contactasse diariamente. Não convém perante uma criança de 3 anos, ainda não preparada, expressar choros gritados de dor que a perturbam, quando morre alguém querido e podem causar consequências extremamente desagradáveis.
Quando uma oportunidade surge, para entrar no diálogo esclarecedor que vá gradualmente preparando a criança para aceitar a morte duma forma natural, como por exemplo a morte dum animal de estimação, surgindo assim o primeiro contacto da criança com esta realidade, numa voz tranquila e numa calma reconfortante expressa-se a verdade que o seu animalito nasceu, foi feliz, mas adoeceu e sofria … e todos os animais, pessoas, e as flores tão lindas nascem e um dia morrem! naturalmente … como um dia nasceram! O teu animalito estava doente e sofria, e agora já não tem dores. A criança pode argumentar que não queria que ele adoecesse nem morresse. Há que criar respostas de acordo com a idade mental, e uma imagem que é entendida quase seguramente é demonstrar à criança que se cortar as pontas dos cabelos, nada lhe dói porque estão mortos, mas se os puxar dói, magoa, porque as raízes dos cabelos estão vivas. O teu animalito já não sofre mais, está morto, e se continuasse vivo continuava com as suas dores, e os médicos dos animais não encontraram processo de curar e sofria como se se puxasse com força os cabelos … de raízes vivas! Sabes? a minha mãe também me ensinou como te estou a ensinar a ti. Os corpos das pessoas, dos animais e das plantas que também nascem e morrem, vão-se desgastando, ou adoecem, uns mais novos, outros mais velhos, e quando se adoece sofre-se, têm-se por vezes dores, e nós, quando gostamos muito de alguém, não queremos que sofra, que seja infeliz.
O teu gatinho, já não era feliz, já nem queria brincar, sofria com dores. Agora já não sente nada. Entendes que morrer é um fenómeno, um acontecimento que surge tanto nas plantas, como nos animais, ou nas pessoas e é tão natural como o seu nascimento? Tu já estivestes algumas vezes doente, e pudeste curar-te, mas há doenças que ainda não se sabe como curar. Tu quando estiveste doentinho choravas muito, porque sofrias. O que tu sentias era mesmo sofrimento, e chamavas sempre por mim para te aliviar … já entendes que o teu gatinho sofreria sempre, choraria, porque não se sabia como curar, e tu não queres isso pois não?
A criança acaba por entender, porque qualquer criança de 4 ou 5 anos já sofreu alguma doença infantil. É bom recordar-lhe e demonstrar-lhe que pôde curar-se. Contar-lhe histórias infantis com situações normais de morte, mesmo com plantas, salientando em paralelo e com exemplos que a criança conheça, a vida das plantas e depois como algumas morrem, mesmo no seu jardim ou nos vasos que estão em casa!
Um dia, quando de perto ela viver a situação de alguém querido morrer, aceita melhor, com outra compreensão, mesmo que a saudade a magoe. Se nasceu, alguém lhe ensinou muitas vezes com tantos diálogos que um dia era natural a sua morte. Nunca enganar uma criança, não é recomendável dizer-lhe, por exemplo que a pessoa partiu para uma viagem … que foi para o céu, algo muito indefinido e confuso para a compreensão mental duma criança de 1ª infância. Ela ficará à espera do regresso de quem partiu. Os especialistas de maior investigação destes problemas aconselham, que depois de muito dialogadas, informadas de acordo com a sua idade, e preparadas, seja permitido às crianças, se elas quizerem ou pedirem para assistir ao desenrolar de determinadas situações que se criam quando da morte de alguém próximo, com a mesma naturalidade que as ensinaram a encarar essa realidade.
Quando as lágrimas rolarem pelas faces dos adultos, lembrar à criança que ela também chorou quando o seu gatinho morreu, ou algo mais que ela tenha vivido relacionado com a morte, sempre de acordo com a sua idade cronológica, insistindo que quem morreu já não sofre, e chora-se com saudade.
À medida que a criança cresce outras explicações terão que ser acrescentadas de forma a salientar sempre que a morte é tão natural como nascer! É fundamental preparar um ser humano a aceitar e encarar a morte duma forma natural, embora sofrendo, e não fazê-lo sentir por situações erradas, algo de terrorífico e apavorante que faz criar um dos piores medos: O medo da morte … que afinal é a única certeza que temos nesta Vida incerta!
Gia Carneiro Chaves

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